segunda-feira, 28 de julho de 2014

Tráfico, corrupção e violência: Efeitos da equivocada repressão às drogas

Juiz é suspeito de beneficiar traficantes clientes de advogada

Polícia encontrou várias sentenças assinadas pelo juiz Amaury de Lima e Souza beneficiando traficantes, clientes da advogada Andrea Elizabeth de Leão Rodrigues.









A matéria acima trata da prisão de um Juiz de Direito que negociava suas decisões judiciais com uma quadrilha de traficantes, por intermédio de uma Advogada.
Este fato causa surpresa e espanto na população em geral, mas não para mim, outros advogados que militam na área criminal, policiais, membros do judiciário, MP, agentes penitenciários ou qualquer pessoa que milite na área ou tenha conhecimento de política criminal, principalmente Política Antidrogas.

Não é raro encontrar pessoas se vendendo ao poder financeiro do tráfico de drogas (ou de armas, políticos, empresários...), estando entre eles profissionais de diversos meios, tais como policiais (militar, civil ou rodoviária ou federal), membros das forças armadas, Juízes de Direito, Promotores, Advogados, agentes penitenciários, entre outros, que acabam por criar uma verdadeira relação espúria de “trabalho” com os chefes de organizações criminosas, porém, é raro, ocorrer prisões de autoridades do naipe de um Juiz de Direito, como a que ocorreu nesta matéria.

O Tráfico de drogas ilícitas é um dos negócios mais rentáveis do mundo e do Brasil e por ser um mercado negro, ilegal, é um dos mais reprimidos, também o que mais gera prisões, principalmente de jovens, em sua maioria pobre e negros, mesmo assim continua atraindo a participação destes e de pessoas de diversas classes sociais, apesar da maioria esmagadora das prisões serem dos operários deste sistema, dos que estão na ponta e desempenham o papel mais básico desta complexa estrutura criminosa.



Entre os efeitos do Tráfico de Drogas, está o crime decorrente do mercado negro, a violência, marginalidade e a corrupção, objeto da reportagem que gerou este texto, tudo isso decorrente da proibição e repressão do uso de determinadas substancias, o que não vem diminuído o uso e em escala galopante vem aumentando a violência e corrupção.

Costumo ilustrar as prisões do tráfico com uma comparação básica:

Imaginem que o Brasil instituísse uma lei que torna o álcool ilegal, criminalizando toda a cadeia de produção, distribuição e venda desta droga, sob o argumento de que a mesma causa malefícios à saúde física e psíquica (o que é verdade), contribuindo para o aumento da criminalidade em geral, acidentes de trânsito e causando prejuízos ao sistema de saúde. Sendo assim, como todo comércio lucrativo em que existe alta demanda, certamente o álcool continuaria a ser consumido por parcela considerável da população.

Existindo demanda e lucro, alguns ingressam no mercado que agora, seria ilegal e em uma situação tosca, teríamos, hipoteticamente, a AMBEV (agora ilegal, organização criminosa) como maior produtor e distribuidor da droga, sendo os bares os destinatários do produto onde seria vendido (servido) por seus garçons nos estabelecimentos, agora, clandestinos.

ð  A proibição do álcool já foi tentada nos EUA nos aos 20 e revogada em torno de 13 anos depois, após resultados desastrosos que resultaram na morte de milhares de pessoas e na criação de uma das mais bem sucedidas máfias do mundo, personificada pelo gangster Al Capone e claro, nunca faltou álcool no mercado e houve aumento significativo na corrupção de autoridades, entre policiais, juízes e políticos.

Voltando ao exercício de imaginação:

Nesta estrutura de distribuição do álcool ilegal, comparando com a existente hoje, as prisões ocorreriam essencialmente, primeiro entre os motoristas e carregadores de caminhões de bebidas (seriam as mulas do tráfico) e os garçons (aviões) seriam maioria nos presídios, em decorrência das atividades de repressão, que dificilmente atingiria os controladores da AMBEV (produtores), os grandes distribuidores (Narcotraficantes, chefes) de bebidas, os donos de bares (donos de boca), e outros que exercem a parte principal da organização, justamente pela falta de competência ou interesse em se combater o mal pela cúpula e como ocorre muito, graças a corrupção de autoridades, seduzidas pelo forte poder econômico do tráfico.

Se o álcool e o tabaco fossem ilegais, nossos presídios teriam mais jovens, negros e mestiços, pobres, moradores das periferias, presos por tráfico de drogas, agravando o problema já existente na falida repressão às drogas como a Maconha, Cocaína e o Crack.

A nossa política criminal na prática acontece desta forma, com a polícia prendendo diariamente pequenos traficantes, aviõezinhos, mulas, usuários (pobres) presos injustamente por tráfico e raramente, ocorrem prisões de Chefões do tráfico internacional ou grandes distribuidores, pois estes se utilizam frequentemente da corrupção institucional para ficarem impunes.

O mercado negro do contrabando de drogas fornece altos lucros para muita gente, envolvidos direta ou indiretamente no negócio, movimentando milhões que são usados para corromper autoridades em todos os níveis e manter o empreendimento em funcionamento, sendo a atual Política de Repressão um meio ineficaz em seu objetivo, porém, extremamente lucrativa para os atores envolvidos neste processo, incluindo corruptos e corruptores.

Quem perde e muito com isso, é a população em geral, com o aumento da violência gerada pela repressão das drogas, responsável por 56,12% dos assassinatos no Brasil, onde os mortos, em sua grande maioria são de jovens pobres de 15 a 25 anos, dados do grupo UN de Notícias em pesquisa recente, chegando a 77% em cidades como Curitiba, um índice alarmante e certamente, muito maior do que o número de mortes relacionadas diretamente ao uso das drogas.


Traficantes em favela do Rio de Janeiro.

Jovem morto em decorrência do Tráfico


Não faz mais sentido investir tanto dinheiro e energia em algo que causa mais danos do que o que se pretende evitar, ou seja, o tráfico criado com a repressão estatal gera um dano infinitamente maior do que o uso das drogas, considerando que elas continuam chegando aos consumidores.

O Estado brasileiro é incapaz de evitar a entrada das drogas em presídios, locais, em tese, vigiados pelas autoridades e cercado de muros, de forma que é utópico acreditar que este mesmo Estado é capaz de reprimir a entrada de drogas no país, nos Estados, nas cidades ou na casa dos consumidores de drogas.

Com esses números concluímos que a Política de Repressão às drogas, mata em proporção infinitamente superior ao do uso de entorpecentes e gera um mercado negro capaz de corromper agentes públicos em todos os escalões, ou seja, nossa Política Antidrogas é um desastre e continuará sendo por muito tempo.

Em Alagoas o tráfico de drogas impulsionou o Estado e a cidade de Maceió a ocupar a primeira posição no ranking de violência, em número de homicídios proporcionais à população, sendo a maioria esmagadora dos crimes resultantes do tráfico de drogas.

Não à toa, Alagoas ocupa os últimos lugares em índices sociais de desenvolvimento humano e econômico, somos um dos Estados mais pobres da federação, temos alto índice de desemprego, baixa oferta de trabalho e uma população crescente, com maioria de jovens, terreno fértil para a proliferação do Tráfico de Drogas, que funciona como opção de trabalho para muitos jovens sem educação e formação profissional e um Estado falido e corrupto, razões pela qual o tráfico cresce e junto com a repressão policial gera os maiores índices de violência nacional e um dos piores do mundo.

A corrupção de um Juiz e uma advogada, é apenas uma parte do problema, servindo para todos como uma reflexão e reavaliação dos rumos da já fracassada política de Repressão às drogas, justamente em um momento onde diversos países passaram a adotar medidas de regulamentação e controle da produção, distribuição, comercialização de drogas antes ilícitas, tirando o poder das mãos dos narcotraficantes, porém, no Brasil, onde muita gente que faz parte do poder vem lucrando com a ilegalidade, caminhamos a passos de tartaruga em Política de Drogas, tratando o tema, ainda, com argumentos morais e religiosos, enquanto todos os dias pessoas morrem e outras enriquecem com o comércio de drogas.



Quanto a eles, a Advogada deve ter seu registro na OAB suspenso ou posteriormente, cassado, pois não desempenhou atividade jurídica, mas verdadeira participação nos crimes, assim como o Juiz, que saiu da posição de julgador para a de partícipe da organização criminosa e como “pena máxima”, será aposentado compulsoriamente pelo respectivo tribunal, além de ambos, responderem criminalmente pelos fatos que supostamente cometeram.

Os traficantes terão agora a não tão difícil missão de corromper novos personagens para manter o sistema funcionando e distribuir os rendimentos do lucrativo mercado negro das drogas ilícitas.



Gustavo Dacal,
Advogado.


Comentário:
- Os dados estatísticos sobre as drogas no Brasil são obscuros, não há investimento em informação, inteligência, mas apenas em repressão, que não apresenta nenhuma melhora no êxito e vem consumindo Bilhões de reais que poderiam ser investidos em educação, saúde e prevenção do uso de drogas, com campanhas educativas como as que reduziu o uso do cigarro ou a lei seca que diminuiu a incidência de acidentes de trânsito provocados pelo uso de álcool.



*Imagens retiradas em pesquisa pública no google, estando este blog à disposição para removê-las em caso de violação aos direitos autorais.